O joelho é uma articulação de exigências extremas na prática esportiva e deve ser estável o suficiente para suportar peso e ter liberdade de movimento absoluta para poder transmitir a energia cinética do movimento. Por este motivo, é uma articulação extremamente suscetível ao trauma e, até mesmo movimentos aparentemente inofensivos podem lesar suas estruturas e comprometer a performance do esportista.
Felizmente, a lesão do ligamento cruzado posterior é mais rara que a do cruzado anterior. Quando ocorre, ela geralmente está ligada a traumas de alta energia, como acidentes ciclísticos, motociclísticos, queda de altura com contusão direta do joelho e até mesmo por um entorse com o adversário segurando a perna do oponente durante lutas, rúgbi e futebol americano.
O ligamento cruzado posterior está localizado na parte de trás do joelho. Ele conecta a parte de trás do fêmur (osso da coxa) a parte de trás da tíbia (osso da perna) atrás do LCA. Funciona como um estabilizador primário do joelho e o principal controlador de quanto a tíbia se move pra trás em relação ao fêmur. De maneira semelhante ao cruzado anterior, o LCP é constituído de duas faixas de tecido em forma de feixes. Uma parte do ligamento fica tensa quando o joelho é dobrado e a outra fica tensa quando o joelho é esticado. Isso explica porque o LCP as vezes é lesado junto com o LCA quando o joelho é forçado a esticar ou hiperestendido.
Sintomas
Diferente de uma lesão de LCA, o qual leva ao inchaço da articulação com sangue, a lesão de LCP não causa muito inchaço. A maior parte dos pacientes tem a sensação de dor e edema - inchaço. Pode haver falseio e insegurança especialmente quando tentam mudar de direção. O joelho pode dar a impressão de deslizar.
A dor e o inchaço moderado do trauma inicial geralmente desaparecem de duas a quatro semanas, mas o joelho permanece instável. Os sintomas de instabilidade e a incapacidade de confiar no joelho para apoio são importantes. A decisão sobre os tratamentos disponíveis e a percepção que a instabilidade crônica pode levar a artrose do joelho. Por isso, é fundamental.
Exame físico
Assim como no LCA, a história e o exame físico são provavelmente as ferramentas mais importantes no diagnóstico de uma lesão completa ou parcial de LCP. Durante o exame físico, o médico vai verificar o quanto a tíbia se move para trás em relação ao fêmur. A isso chamamos de exame de “gaveta posterior”. Por consenso mundial, gradua-se os achados do exame físico em graus, partindo do grau 0 até o grau 4. Pelo fato de grande parte da população possuir uma condição denominada hiperfrouxidão ligamentar, especialmente mulheres, é sempre muito importante examinar o mesmo contra-lateral a fim de se evitar os “falsos positivos”.
Imagem
A ressonância magnética (RM) é provavelmente o mais apurado teste de imagem para diagnostico. A RM usa ondas magnéticas ao invés de raios X para mostrar os tecidos moles do corpo. Essa máquina cria imagens que parecem fatias do joelho. Essas imagens mostram a anatomia e sua lesões muito claramente. Não necessita de injeções ou contrastes e é indolor.
Tratamento
Habitualmente, o tratamento inicial para lesões de LCP é conservador (não-cirúrgico). Repouso e anti-inflamatórios, podem ajudar a diminuir esses sintomas. A maior parte dos pacientes são liberados para caminhar apoiando a perna no chão. Acho de suma importância o uso de um “brace” articulado nas duas primeiras semanas para que o joelho seja protegido de outros possíveis traumas e que outros ligamentos e outras estruturas possam cicatrizar.
À seguir, inicia-se um programa de reabilitação progressiva. A meta envolve:
- Controle da dor e inchaço no joelho
- Analgesia e estímulos de cicatrização para outras estruturas do joelho lesionadas.
- Manutenção do arco de movimento
- Reforço muscular com ênfase no ganho do músculo quadríceps, pleo fato deste ser o principal sinergista do LCP
Havendo melhoria dos sintomas, da resposta neuro-muscular e sinais de estabilidade articular, os exercícios podem então passar a serem feitos em uma academia de ginástica sob a supervisão de um educador físico experiente e que entenda das alterações biomecânicas sofridas pelo joelho. Esta parte da reabilitação considero fundamental para os pacientes que desejam retornar ao esporte, pois o ambiente de treinamento melhora a autoestima e colabora (e muito) na fase de retorno pleno ao esporte.
Cirurgia de reconstrução do LCP
Se os sintomas de instabilidade não forem controlados pelo "brace" e o programa de reabilitação, ou se a instabilidade for muito grande desde o inicio, ou estiver ligada a lesões de outras estruturas, como o cruzado anterior e meniscos, a cirurgia pode ser indicada. O principal objetivo é evitar que a tíbia se movimente muito sob o fêmur e se restabeleça a função normal do joelho.
De maneira semelhante ao ligamento cruzado anterior, a reconstrução do LCP utiliza um tendão para substitui-lo. Essa cirurgia é feita usando-se o a vídeo artroscopia. Um dos tendões mais usados é o patelar. Esse tendão conecta a patela (rótula) à tíbia. Aproximadamente 1/3 do tendão patelar é removido juntamente com um plug ósseo em cada extremidade. São feitos furos nesses plugs em que são dados pontos. Então são feitos furos na tíbia e no fêmur para se alocar o enxerto. Esses furos são feitos de modo que eles tenham a mesma direção que o LCP original. Então, o enxerto é colocado no lugar e parafusos são usados para fixar os plugs nos buracos perfurados.
Outra fonte de enxerto são os tendões posteriores da coxa. Esse enxerto é retirado de um dos flexores da coxa da sua inserção na tíbia logo abaixo do joelho. Os flexores da coxa descem pela parte de trás da coxa. Seus tendões cruzam o joelho e se conectam com cada lado da tíbia. O enxerto usado na reconstrução de LCP pertence ao músculo semitendinoso. O cirurgião também pode retirar o tendão do músculo grácil que fica próximo ao semitendinoso. Quando dispostos em três ou quatro camadas, esses enxertos têm quase a mesma força do tendão patelar.
Pós-operatório
A fisioterapia é iniciada logo após a reconstrução do LCP. As primeiras sessões visam diminuir a dor e o inchaço da cirurgia e no ganho de amplitude de movimento. Muitas vezes, aparelhos como o CPM (do inglês: movimentação contínua passiva)
Os exercícios de fortalecimento do quadríceps (músculos da frente da coxa) são iniciados em seguida. A estimulação muscular elétrica pode ser necessária para o treino da musculatura. A seguir, de maneira semelhante à reabilitação de outras lesões esportivas, avalia-se o equilíbrio muscular através da dinamometria isocinética, iniciam-se exercícios de agilidade motora (pliometria) e o retorno gradual ao esporte é realizado em conjunto da equipe médica com o treinador.
Fonte: EuAtleta
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